ramificaÇão

-A série “Arquétipos -Afroindígena” agora apresentada por Josafá Neves inscreve-se de maneira destacada na trajetória do artista que se dedica a recuperar imagens obliteradas da história oficial da arte brasileira que privilegia apenas elementos estéticos oriundos da nossa herança européia em detrimento das enormes contribuições indígenas e africanas, essenciais na construção da cultura visual brasileira. Na esteira do grande Rubem Valentim, Josafá reconstrói com extrema sofisticação intelectual o panteão icônico oriundo dos povos nativos e dos povos africanos aqui aportados nas condições degradantes da escravidão. Fiel às suas heranças, Josafá cria painéis cerâmicos de grande potência visual, unindo figuração e geometria numa dança sensual e guerreira de formas e cores de forte impacto. O sincretismo religioso aqui invade o campo das técnicas artísticas e a azulejaria tão característica do colonizador lusitano serve como suporte para a fé, a força e a permanência das nossas raízes, fundamentais para a atividade artística de um país com características peculiaridades graças à sua diversidade étnica e cultural. Essa simbologia essencial de matriz indígena e africana já havia sido prenunciada pelo grande Athos Bulcão em alguns de seus painéis cerâmicos que hoje se afirmam como marca essencial de Brasília; Josafá segue essa vereda e desvenda um universo simbólico repleto de potência visual, encantamento e beleza. Ele é a voz e a vez de um povo que  luta para que a arte de nosso país seja um espelho real e verdadeiro do nosso cenário nacional, paisagem tropical incandescente e misteriosa, palco da crueldade e da melancolia redimido pela arte em toda a sua potência transformadora e bela.

CURADOR_ Marcus Lontra

ORIXÁS Josafá neves 28 jan 29 mar Museu Nacional_Brasília 2020

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